«os poetas todos morrem sempre mais na língua»
Fiama Hasse Pais Brandão
Do que tenho verdadeiramente pena
é dos poetas todos quando morrem
morrerem sempre mais na língua.
E quando passo nas linhas das estâncias
que fervilhavam verão e inverno
nos meus seios no meu ventre nus
não encontro um único sopro
um único ritmo parecido com o dos seus poemas
É como se se abrisse um grande buraco
em todos os livros de poesia quando
os poetas se preparam para ser pó
E o meu tronco também enrijece a partir
dessas publicações das quais sai um pouco
da terra negra que os sepultou para os meus olhos
E essa terra de restos humanos e animais
encobre recantos desmesuradamente belos
da língua pura e vegetal que sustenta o meu espanto
Perco sobretudo a minha língua e dói-me
quando os poetas morrem assim profundamente.
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