segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

[Vi-me fechada no teu quarto – em Amherst – ]

«Come slowly - Eden!»
Emily Dickinson

Vi-me fechada no teu quarto   em Amherst   
e fechei bem os olhos  – para sentir no ar
a tua voz perdida  – a imagem do teu rosto
branco pequenino inclinado – para a garganta  
em busca do néctar   mel das palavras-primas  
E assim lentamente me chegou    à língua   o éden
que trinquei como um pedaço de ti   Emily  

Perdoa-me a metonímia acostumada porque te vejo
muito o vestido branco  – os bandós sobre as têmporas  
os olhos negros a quem peço encarecida que me segredem
os teus ritmos abruptos    raízes silentes  – claves pungentes
a quem clamo que me levem ao fim dos teus mistérios  
com os meus punhos tensos   como a tua pontuação 
excessiva   cheia de pausas para te ouvir ainda  
ver a tua sombra na erva  – a tua  vida infinita a trair a morte  

E para te engolir inteira quero que as tuas ânsias me ardam  
no colo  – quero que as tuas sílabas se ondulem nas ancas  
qual  sépala   pétala    espinho ditos em gritos largos
que me inibam a fome  – pela tua concisão de poeta  

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