segunda-feira, 17 de junho de 2013
[Cobre-te qualquer coisa interior]
Cobre-te qualquer coisa interior
a pele tão lisa quente
Despontas num sinal
da tua imensa tempestade
É fácil ver que és uma prega leve no mar plano
que me interrompes numa maciez de chuva
Noto bem: vens imenso de dentro de ti
e isto sempre continuamente
Tombas do fundo puro donde te concebeste
para cima dos meus olhos grande
cheio de gestos sem falhas que derivam
do Princípio e assustas assim feito dessa clareza
Porém gosto de te entrever nessa ameaça
nessa substância autêntica acre que ainda produz
pequenos sons como se estivesses a nascer
rumores que te vibram rente à barba
e apenas abaixo na boca húmida soltam uma fragrância
a terra molhada primordial que me chama sem palavras
O interior cobre-te a cabeça o corpo os movimentos
Aprofundas-te num brilho desigual que me fascina
e fazes com que trema ao observar-te quando
sólido e físico te abres em esplendorosa linguagem.
sábado, 1 de junho de 2013
[O rosto da minha avó foi hoje um sonho]
O rosto da minha avó foi hoje um sonho
Encontrei-o por acaso num buraco
do seu quintal Ela sorria e parecia querer
que eu lhe afagasse os cabelos molhados
da chuva que invadiu aquele fosso
A brancura extrema dos seus cabelos
encharcados talvez tenha sido o que mais
me impressionou naquela aparição
A sua língua estava inundada e tinha peixes
na boca Com tanta água não conseguiam vir
à tona as palavras Era uma velha sem língua
Não parecia a mesma sem poder falar
emitir um som meigo um beijo mesmo o sorriso
era diferente embaraçado da clausura
Os cabelos atrapalhavam Eram brancos demais
e matavam todas as outras possibilidades de cor
E assim não havia ponte para chegar até mim
nem som nenhum que nos unisse de facto
Apenas o sorriso talvez um meio sorriso
Apenas a brancura extrema A água
Pareceu-me ver os meus primórdios naquele buraco
mas mal eu me baixei para a ver de perto
e certificar-me de que era ela realmente
só deu tempo de apanhar um peixe que nadava rente
às gengivas e parecia uma sílaba saudosa ssssssibilante
e os seus olhos fecharam-se. A morte levou-a outra vez.
Encontrei-o por acaso num buraco
do seu quintal Ela sorria e parecia querer
que eu lhe afagasse os cabelos molhados
da chuva que invadiu aquele fosso
A brancura extrema dos seus cabelos
encharcados talvez tenha sido o que mais
me impressionou naquela aparição
A sua língua estava inundada e tinha peixes
na boca Com tanta água não conseguiam vir
à tona as palavras Era uma velha sem língua
Não parecia a mesma sem poder falar
emitir um som meigo um beijo mesmo o sorriso
era diferente embaraçado da clausura
Os cabelos atrapalhavam Eram brancos demais
e matavam todas as outras possibilidades de cor
E assim não havia ponte para chegar até mim
nem som nenhum que nos unisse de facto
Apenas o sorriso talvez um meio sorriso
Apenas a brancura extrema A água
Pareceu-me ver os meus primórdios naquele buraco
mas mal eu me baixei para a ver de perto
e certificar-me de que era ela realmente
só deu tempo de apanhar um peixe que nadava rente
às gengivas e parecia uma sílaba saudosa ssssssibilante
e os seus olhos fecharam-se. A morte levou-a outra vez.
Subscrever:
Mensagens (Atom)