terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

[Há olhos que habitam nos poemas que escrevo]

«Para mim na poesia nada tem importância
a não ser os homens.»
Anna Akhmátova

Há olhos que habitam nos poemas que escrevo
Há olhos que os rodeiam como braços pelo exterior
polvos que os seguem de tão arrebatados
Olhos fixos que esperam os meus desnudamentos
Olhos cheios de água por dentro que sorvo
encaminho e junto à minha nascente
a esse manancial aquático que broto
até às mãos que moldam a minha poesia
E eu gosto de lavar-me nessa frieza casta
de cingir o que encontro irrepreensível do rosto dos outros
Faço deles um lugar ascético um lugar alto e de culto
Faço deles um rio que vou enchendo que sigo até ao fim
E recolho dos outros o que choraram o que gritaram
para beber outras humanidades dessas ruas que percorro
pois é nessa corrente que vejo a poesia grande fora de mim.

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