A poesia é criar uma espécie de angústia para a resolver.
Paul Valéry
Vem numa espécie de angústia aos lábios
a minha poesia
Sabe-me a palavra dorida que eu própria feri
para depois abrir os braços o mais que posso
e ir de encontro a essa opressão
que sustento que recrio que me instalo
Rasgo dois furos um em cada mão aberta
e transporto a angústia para a minha cruz
alço-a no peito aberto a tudo
dou-lhe o corpo inteiro para que ela fique
se enraíze como planta carnívora
Gosto que me roa que me coma até que doa
De vez em quando molho os lábios para trazer
a dor para dentro mas devagar
Reconheço a minha poesia a doer por mim acima
cá dentro arde sem voz ainda que a diga
ajudo a recolhê-la ensanguentada
a enovelar-se irreconhecível num novo caos
e precipito o seu transporte nas veias
cada vez mais quente a borbulhar e dói
porque cá dentro não há vento que a rebente
contra um fundo real duro
O real é sempre mais duro do que o meu corpo
o meu corpo é mole embala-a liquidifica-a
Mas dentro do meu corpo mais ao fundo
há sonhos constantes que se cruzam com ela
com a minha poesia em sangue
e como se fossem pedras esses sonhos
atingem-lhe o muro de angústia com força
acabando por desfazê-la nesse alvo
numa ou noutra palavra
que expulso quando já não suporto mais
refazê-la assim no sangue
como se não existisse fora de mim.
Vem numa espécie de angústia aos lábios
a minha poesia
Sabe-me a palavra dorida que eu própria feri
para depois abrir os braços o mais que posso
e ir de encontro a essa opressão
que sustento que recrio que me instalo
Rasgo dois furos um em cada mão aberta
e transporto a angústia para a minha cruz
alço-a no peito aberto a tudo
dou-lhe o corpo inteiro para que ela fique
se enraíze como planta carnívora
Gosto que me roa que me coma até que doa
De vez em quando molho os lábios para trazer
a dor para dentro mas devagar
Reconheço a minha poesia a doer por mim acima
cá dentro arde sem voz ainda que a diga
ajudo a recolhê-la ensanguentada
a enovelar-se irreconhecível num novo caos
e precipito o seu transporte nas veias
cada vez mais quente a borbulhar e dói
porque cá dentro não há vento que a rebente
contra um fundo real duro
O real é sempre mais duro do que o meu corpo
o meu corpo é mole embala-a liquidifica-a
Mas dentro do meu corpo mais ao fundo
há sonhos constantes que se cruzam com ela
com a minha poesia em sangue
e como se fossem pedras esses sonhos
atingem-lhe o muro de angústia com força
acabando por desfazê-la nesse alvo
numa ou noutra palavra
que expulso quando já não suporto mais
refazê-la assim no sangue
como se não existisse fora de mim.
Sem comentários:
Enviar um comentário