sábado, 9 de março de 2013

Foi a dormir que vivi o pior


Foi a dormir que vivi o pior
e me descobri em tantas hipóteses de morte 
que apenas pude salvar-me numa espécie de grito
que inventei contra o meu estrangulamento 
Grito que levantei contra a noite-dentro
para me desviar desse sono  insuportável
E ao recusá-lo tornou-se claro que me infligi
como se fosse outras que nunca vi de dia
uma bílis mais amarga  mais verde
Verti-a perigosamente sobre a razão
como uma perturbação saturniana
- sobre os meus medos de mulher viva e amante
que deixam o meu corpo poético para trás -
Dobrei-me ao entendimento do que é ser mortal
e não acordei entre nenhuma noite nenhuma madrugada
Apenas me deixei implodir de veias malignas 
e a partir das quatro da manhã em ponto
(sou rigorosa mesmo adormecida)
o sangue alastrou-se em caminhos tortuosos 
e doenças pantanosas soterraram a única
cura que para mim preparei há muito
a palavra
por isso me forço a não dormir e de imediato 
digo ou escrevo para me salvar da noite.


Imagem: Leonor Fini

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