sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

[ Sinto-me observada ]


Sinto-me observada
a cada sílaba cantada
la-la-rai-la-la-rai-la
disfarço ao lado das coisas
sigo em frente e canto
persisto la-la-rai-la-la-rai-la
mas vejo para trás
sombras delgadas fugazes
vertidas no soalho polido
um corpo branco
muito branco estendido
deitado ao chão como luva de luz
sombras de um corpo desejado
que espera pelo (meu) olhar -
serei eu que me espero
para me abraçar?
Ou serão agravos da alma
a empurrar-me
para uma visão marmórea
da morte a que não escapo?
sei. não canto já. sombras de mim
são o futuro da minha carne
medrosa à espera que eu passe
por toda a parte
branca


Imagem: Francesco Hayez, Susanna al bagno

Sem comentários:

Enviar um comentário