segunda-feira, 7 de outubro de 2013

[Da tua voz fiz uma vertigem]

«- Da tua voz fiz uma vertigem
  como nunca imaginei haver.
  Dobei-a como a uma lã
  que parecia mesmo não querer
  desprender-se do novelo de que é enigma.
  Assustou-me uma garganta fechada
  sem abertura para o escuro que há em ti.
  Doeu-me puxar-te pelo fio do coração
  que reconheço de qualquer longe. Foi longo
  o caminho que estendi até aos teus rumores.
  Pé ante pé equilibrei-me nas tuas entoações.
  E só no fim do meu esforço   lenta   me despi
  e a tua voz veio à tona  súbita  num redemoinho
  mas com um sangue tão retraído
  que me transtornei para essa noite para a noite
  seguinte para todas as noites. Perdi-me então
  num silêncio de mera constatação da tua perda
  que não passou de outra vertigem que refiz de ti
  para lá da música que noutro tempo ousaste ser
  no meu corpo tão novo tão tenso contra o teu.»
«- ___________________________________.»
«- Hoje és o silêncio triste que há no fundo
   das coisas  às vezes no avesso interdito dos lugares
   ou nas sombras que passam e se calam sem razões.»

Imagem: Rocco Carnevale, L' Escape

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