«- Da tua voz fiz uma vertigem
como nunca imaginei haver.
Dobei-a como a uma lã
que parecia mesmo não querer
desprender-se do novelo de que é enigma.
Assustou-me uma garganta fechada
sem abertura para o escuro que há em ti.
Doeu-me puxar-te pelo fio do coração
que reconheço de qualquer longe. Foi longo
o caminho que estendi até aos teus rumores.
Pé ante pé equilibrei-me nas tuas entoações.
E só no fim do meu esforço lenta me despi
e a tua voz veio à tona súbita num redemoinho
mas com um sangue tão retraído
que me transtornei para essa noite para a noite
seguinte para todas as noites. Perdi-me então
num silêncio de mera constatação da tua perda
que não passou de outra vertigem que refiz de ti
para lá da música que noutro tempo ousaste ser
no meu corpo tão novo tão tenso contra o teu.»
«- ___________________________________.»
«- Hoje és o silêncio triste que há no fundo
das coisas às vezes no avesso interdito dos lugares
ou nas sombras que passam e se calam sem razões.»
Imagem: Rocco Carnevale, L' Escape
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