Vem de mim o mistério da voz
parturiente e parteira convoco-me
este momento é só meu
dou o corpo à morte - mudo
e fervilham-me os lábios logo
assim ofereço a garganta ao corte
os pulsos às amarras aos grilhões
as mãos em punho debatem-se ríspidas
as pernas afastam-se como pássaros tementes
tensa finco os pés na parede grossa
frente à cama quente desta pré-convulsão
E é tanto o incompreensível que o nascimento
da palavra envolve que abro os olhos
para reter do vazio a primeira sílaba
lançada pela língua dolorosa em plena voragem
Ouço e só depois me liberto a tomo e escrevo
como se a música pudesse compor-se saída de mim una.
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